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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Carta aos amantes parnasianistas,

pois sempre escrevi cartas demais para amores de menos.
Procurava transcrever tudo aquilo que nunca me foi sentido
em uma página única em escrita fina e itálica, negra como
um objeto qualquer do neoconcretismo, vivendo romances
à la Truffaut e surrupiando construções metafóricas de caráter
um tanto quanto modernista, cientificista, astronômico ou
meramente lunático em uma poção da metafísica do amor.
Não era tudo isso. As palavras eram cruas e mal vestidas,
porque não há poesia que carregue o fardo da inexperiência
até que alguém seja bombardeado por milhões de partículas
que transformem a poesia em corpo e curva. Pois agora seriam
lábios cerrados que construiriam os versos, e não mais palavras.
Ah, meu amor, a vida era mais leve e sem aconchego, sem colo
para dar, sem calor para sentir, sem o arrepio da pele estarrecida
e sem a dúvida e a perplexidade e a insegurança que nos enterram.
A gente nunca sentiu o copo vazio porque ele nunca havia sido
servido, não? E porque às vezes é tão difícil retornar, porque o
mundo é tão grande lá fora e há uma infinidade de medos que
provocam as minhas entranhas, sem licença para entrar ou aviso
ao sair. Me desculpe... Não consigo por ora enfrentar a
velocidade com que os dias passam, mas eu só escrevo cartas
e procuro os resquícios do amor espalhados pelo espaço.
E não se trata de ter fôlego, mas de saber o que dizer ou saber
o que sentir. E eu sei que você também não sabe. Ninguém é
sério aos dezessete anos. Então eu continuo escrevendo sobre
você para o amor, que é o que vem me buscar dos retratos
p a r n a s i a n i s t a s     e me joga ao naturalismo do teu ser,
que é melhor do que qualquer espécie literária que eu poderia
pensar em escrever.

Um comentário:

  1. o retorno às trevas e às garras da ordem parnasiana é doloroso, mas cada segundo de fuga é como uma epopeia de todos os escritos, num clamor fantástico do mundo que nos é forçado goela abaixo.

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