autor: Ayrtton Fonseca autor: Bárbara Tanaka autor: Giovana Anschau autor: João Basso

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Para além do Capital

                Acordei estranho. Limpando o ranho, no meio do banho, pensando num concurso. Talvez intercâmbio. Encontro um caderno antigo, mofado mas não menos importante e recheado de história. Bê conta sobre a irmã mais nova. Ayrtton gira em torno de pronomes ocultos femininos, já João reflete nos arredores da temporada final de Sense 8.
                Lavei a louça, pendurei a roupa e vi tudo bagunçado. Nada deixa o homem mais doente do que o abandono dos parentes, ponderei. É engraçado. O que nos torna pequenos é não ver que a vida é feita de planos errados. O café que compartilhei com a minha silhueta veio amargo e requentado, e as lúgubres memórias que vieram precisavam ser escritas.
                Num ano, fui tudo. Fui maloqueiro, estudioso, romântico, frio, solitário, popular e até preso. Isso me arrastou até a conclusão que o inexplicável é vendido no mercadão moderno; felicidade em falta, amizade em liquidação e a maior cotação é um abraço. 
                O fato de tudo estar parecendo promissor (apesar de melancólico) me impede de lacrimejar, percebo. Corto relações mais rápido do que corto cebolas ou bolas no vôlei. Eu deveria fazer algo, dar uma lida. Esqueçam esse garoto nas ruas da babilônia perdida.


Olho pro alto enquanto caio  
atingido por um raio 
num dia chuvoso 
abro os olhos, ainda estou vivo 
levanto e me reativo 
encaro: o ciclo venenoso.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Castelos e Ruínas

Penso que o que me falta (de vez em quando) é um pouco de inocência.

Se eu não fosse tão ciente de tudo, talvez já tivesse mais progresso. Hábitos e histórico me fizeram um homem sábio, mas os vícios não me dão espaço pro inteligente. Eu sei do provável, eu sei do difícil, sei do certo e sei do errado. Não faço nada, tento muito. Sou tudo, sou nada.

Sou grande, sou pequeno, sou o inocente em cima do muro.
Sou rico, sou pobre; sou camponês, sou nobre.
O chão de dinheiro, que forre. Sou ouro e cobre.

E ciente de tudo, sei que é o progresso. Evolução mental, melhoria de palavras e novas roupas, velhos amigos e novas pessoas. Várias tentativas, poucos sucessos, seguido de filosofia e alguns retrocessos. 

Avanço e me canso, prossigo e me deito; suspiro e penso (a meu respeito)
Será que alcanço? Sorrio em meio ao que miro; tenso.

é singelo o dia, e a noite; puída.
ciente de você, ambição
meu castelo, minha ruína.

quinta-feira, 9 de março de 2017

suas pernas foram feitas para correr,
e hoje,
eu só te vejo parada.

eu também parei
hoje eu estou estático
eu vejo o vazio nessas folhas, no horizonte, na sua foto, no reflexo na janela.

minha cabeça está baixa,
com o cabelo e a roupa molhada,
eu bato à porta.

meu corpo todo está molhado,
junto com essa rosa que tentei proteger,
desculpa, meu amor, mas no verão sempre chove.

eu só ouço silêncio,
silêncio,
silêncio.

somente silêncio.

viro as costas e corro,
corro,
corro.

a respiração ofegante,
a chuva em contato com a pele,
a rosa no lixo.

somente silêncio.
somente,
silêncio.

silêncio.

prometo a ti: nunca mais pararei de correr,
desculpa, meu amor, mas no verão sempre chove

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

a criança do parquinho

Aí está você, puros dentes brancos
dando-me alívio entre declives e barrancos
o seu branco me é uma bronca --- e comigo brinca
dos movimentos: que sinta. (sinta mesmo) Os bruscos brotam brilhos.
a seguro em meus braços, em pleno breu
(...)

Hei de ser, houve e foi
haveremos de compreender
você saberia o que dizer.

Eu caminho no condomínio
crianças no parquinho
crentes de diversão
algumas sem um colinho

Eu olho o relógio e
já passou muito do horário
éramos junção e crase
mesmo sem um dicionário

(Maldita dor que nos assola,
maldita dor que nos aguarda)

Fico sem graça, reflito:
dou risada. (muitas)
saio ao caminho
lembro do abraço;
lembro do carinho.

Era domo, era eu
era dominho
sempre deixava claro que
eu era seu irmãozinho

Vou-me embora um tempinho
deixe-me aqui no canto, quietinho
pois eu sem você
sou a criança sem parquinho.